sábado, 28 de março de 2009

Atividade 3 - Percepções

Minha narrativa está centrada na conexão que eu encontrei entre os quatro fragmentos presentes na atividade, fragmentos que tratam do tema trabalho.
O decreto-lei legisla sobre o salário mínimo, descrevendo sua criação ( na reforma trabalhista promovida pelo então presidente Getúlio Vargas ), aplicabilidade e estabelecendo como direito adquirido por todo trabalhador brasileiro. Esse decreto-lei, no contexto apresentado pela atividade, cria uma oposição ao tema retratado na tela magistralmente pintada por Cândido Portinari. O quadro mostra a colheita do café, com emprego de escravos para executar a colheita, em uma fazenda. E essa atividade, cujo trabalhador é alijado do direito previsto no decreto-lei, se conecta com a concepção física do trabalho descrita na wikipédia : a força empregada para o deslocamento de alguma coisa. Os trabalhadores negros carregam as sacas de café, sob as ordens de um capataz indicando para onde devem, mecanicamente, levar o produto. Tais como se fossem meros vetores físicos, animais de carga privados de qualquer capacidade de protestar, mesmo que o protesto busque como recompensa o direito de receber um mísero salário mínimo ( sequer criado na época, já que o trabalho era escravo) ou, em última instância, dignidade.
A minha área de formação abordaria o tema trabalho observando exatamente essa perspectiva. A inversa proporcionalidade da recompensa material versus o esforço físico empregado em uma determinada atividade. O salário mínimo é reservado ao servidor braçal, tratado na canção de Chico Buarque, "como se fosse máquina". Aos escravos de hoje. E o trabalho intelectual, tal como a produção da web ou a produção cultural de Portinari, esse raramente encontra como remuneração o glorioso salário mínimo, politicamente editado em 01 de maio de 1943. Normalmente, seu preço é definido ao gosto da relação contratante/contratado. Não encontra amparo em teoria da mais valia, ou qualquer outro texto que normatize as relações de trabalho.
As evidências dessas discrepâncias sociais, todas presentes nos fragmentos analisados, acabam por retratar a sociedade brasileira. Uma minoria intelectual legislando sobre a vida da maioria ainda inculta. Definindo seus rumos, decidindo como e quanto deve receber por seu flagelo físico. Tal qual o capataz do quadro de Portinari, essa minoria aponta para onde o produto deve ser levado. Se antes café, hoje os escravos modernos carregam tijolos, cimento e toda a sorte de materiais necessários para construir, silenciosamente, a paisagem urbana. Ironicamente, talvez um de nós, ao abrir o jornal, leia que o sujeito "morreu atrapalhando o tráfego", ou vitimado por infarto ou estafa de cortar, sozinho, nove ou dez caminhões de cana. E após esse rápido contato com a realidade, passaremos ao que realmente interessa no jornal : variedades, quem "pegou" quem no Big Brother e o namorado escolhido na semana por um ator ou atriz famosa, a nova paixão de uma vida toda. Escolhido o programa recomendado pelos intelectuais, uma rápida ida ao posto de combustível, pois o motor do nosso carro, embora não conheça o salário mínimo, não trabalha gratuitamente e só empurra a carroceria mediante combustão que gera os vetores descritos na wikipédia. Alguém já perguntou se há sangue misturado no álcool ? Essa foi a minha percepção, ao encerrar a releitura dos fragmentos utilizados para a atividade. Quero dividir com vocês esse sentimento, que acabou por engendrar toda a cadeia de desigualdades evidenciada pela intersecção das diferentes apresentações do trabalho e o desequilíbrio brutal entre recompensa e esforço. É preciso, segundo a minha opinião pessoal, reduzir essa desigualdade, melhorando a remuneração daqueles que se dedicam as atividades braçais essenciais ao funcionamento da nossa sociedade e que não são vistas como indispensáveis ao equilíbrio social.

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