domingo, 14 de agosto de 2011

Não é um domingo como os outros

Nesse domingo, as pessoas celebram o dia dos pais.
É uma data especial para muita gente, para muitas famílias que confraternizam em clima de extrema alegria e proximidade.
Embora meu pai já tenha falecido, a minha memória não deixa que ela morra de verdade. Eu não acredito que ele esteja em outro plano ou em qualquer outro lugar que as pessoas acreditam que há após a vida. Eu não creio que seja assim.
A existência que ele ainda têm, desde que sua vida cessou subitamente há 13 anos, é nos diálogos e lembranças de todos nós que o amamos enquanto ele aproveitou os 58 anos, o número de anos em que andou pela Terra. Pouco tempo, deveríamos todos viver muito, muito mais.
As experiências que tive com ele foram muitas e ficaram grandes lições sobre o que fazer e o que não fazer.
Ele foi um grande ser humano. Cheio de vícios, de problemas, mas ainda assim uma grande pessoa, muito bom e sempre pronto para ajudar qualquer um. Ele foi também o sujeito de pior sorte que eu conheci.
Azarado era pouco, mas acho que ele não transmitiu isso adiante.
Guardou tudo com ele e carregou consigo, quando partiu.
Sua inteligência era uma das coisas mais notáveis que eu vi.
Ainda assim, vivia se ferrando e sempre no sufoco, pendurado em todos os aspectos da vida. Se ele tentasse algo, a coisa dava errado. E muitas pessoas ganharam muito dinheiro explorando essa característica dele, aproveitando do seu constante desespero.
Só que tudo isso não é relevante mais. Como eu disse, ele era uma pessoal resignada e carregou isso com ele para a Rua 18 dos Amarais. Eu afirmo que não tenho 20% do brilho intelectual dele e as coisas acabam indo bem, muitas vezes de maneira inexplicável.
Quando eu penso sobre o assunto, meu diálogo hipotético com ele é sempre o mesmo : porque merda você tinha que partir naquela manhã de 09 de Junho ?
Quanta coisa boa deixou de ver desde essa data fatídica. Tantas pessoas que vieram por você e que estão muito bem desde então.
Só a Ponte Preta ficou na mesma : essa, ainda não foi campeã.
Paciência Luizão, nem tudo se corrige assim ...













quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Erros e acertos

Sou pai de duas princesas.
São as meninas mais lindas do mundo, simplesmente.
Uma delas têm a capacidade de colocar frases que se tornam inesquecíveis.
Se tornam inesquecíveis pelo contexto em que são ditas, pelo timing perfeito em que ela coloca as observações ( causa uma surpresa danada isso ) e até pela acidez do comentário que ela formula com tremenda transparência e inteligência.
Parece exagero meu, mas não é. Ela é uma aluna dedicada, com ótimas notas, adora livros e tudo que lhe proporcione conhecimento. Adora o colégio onde estuda, é a segunda casa dela.
Foi exatamente no colégio que ela cunhou a última sentença sobre a qual eu ando refletindo muito, muito e muito.
Eu sempre gostei de esportes, embora não tenha grande talento para nenhum deles. Pratico futebol eventualmente e pratiquei muito basquete, anos atrás.
Meu auge nesses dois esportes, digamos assim, foi há longínquos 17 anos atrás.
Eu tinha 16 anos, era um bom goleiro de um bom time juvenil do bairro onde eu morava e fiz um ótimo campeonato de futebol amador na cidade do interior onde cresci.
Falei um pouco sobre isso em postagem do ano passado, no qual comentei sobre a partida inesperada de um bom amigo de infância. Ele teve a vida ceifada por um bandido, um fato muito triste esse. Encontrei o irmão mais novo dele meses atrás e ele confessou que estava arrasado e em tratamento médico para aceitar a perda do irmão.
Retomando o que eu dizia, eu jogava futebol e basquete regularmente. Vamos esquecer um pouco o futebol e focar no basquete.
É um esporte que eu gosto por causa da matemática que envolve o que você faz na quadra.
Você pode saber quantas vezes arremessou e acertou, quantos rebotes pegou e outros tantos mais. E pode comparar o que fez com o que os outros fizeram, saber se foi melhor, pior ou em linha com a média das outras pessoas.
A coisa que eu mais gostava no basquete era treinar arremessos da linha de lance livre. Chegava cedo no SESI e arremessava 100 vezes seguidas, normalmente.
E guardava a média de acertos. Era por isso que eu fazia esse exercício : saber quantas vezes eu acertava e se era melhor ou pior que a vez anterior.
Minha média de acertos era 65-70 arremessos em cem. Em dias brilhantes, eu fazia 75, 77. Uma única vez na vida, acertei 81 em 100. É o meu recorde, assim posso dizer.
Por alguma razão que eu desconheço, a minha filha sabia dessa minha predileção por essa atividade do basquete.
Sou naturalmente lacônico, uma característica pessoal e uma criança como ela nem se interessa muito por coisas assim, pensava eu. Acho que nunca comentei sobre isso com ela.
Só que no último sábado, fizemos uma atividade conjunta do colégio para celebrar o dia dos pais. A coordenadoria pedagógica organizou uma gincana esportiva e cultural, onde os pais foram convidados para se organizar em grupos e praticar um circuito de esportes e entre eles, o basquete.
Fui surpreendido quando ela me disse que havia comentado com os colegas de classe que eu seria a pessoa com maior número de acertos nos arremessos.
Peguei a bola e fui para a linha com isso na cabeça.
No fim, contei apenas 5 acertos em 9 tentativas. Se contar com o aquecimento, que as crianças assistiram, foram só 7 em 14 tentativas. Bem abaixo dos 65% de anos atrás.
Uma completa decepção. Eu esperava esse resultado pelo sedentarismo e falta de cuidado que tenho com minha forma física. Uma vergonha que me deixou cabisbaixo demais, tremendamente puto com minha barriga de churrasco, fôlego de tartaruga e agilidade executiva.
Todos esses sentimentos negativos sumiram com uma única frase.
A atividade acabou, ela correu em minha direção e eu lembro de ter dito algo como : Você viu ? Acertei só metade ...
E no meio do meu perdido raciocínio de justificativa, um corte firme e claro foi dado por ela : Pai, eu não sei ... você continua o melhor, foi o pai que mais acertou e meu amigo disse que era verdade, que você realmente é muito bom. Nossa, você fez 5 !
Fiquei mudo. Havia esquecido completamente de observar isso, que as crianças da sala dela têm menos de 1,50m e que a cesta de basquete, com 3,05m de distância do chão, deve ser um desafio espetacular para ser vencido. Vencido 5 vezes então, deve configurar algo de outro mundo para eles.
Em certa ocasiões, a lógica, a competição, a comparação com o passado, a falta de aceitação para novos limites e outros desvios causam completa chateação e egoísmo.
Ao terminar e perceber que não deu, eu estava prontamente povoado de pensamentos punitivos, depreciativos.
Comparativamente, eu queria exigir o mesmo em condições diferentes, despreparado e sem organizar nada. Estava cego : ela só queria comprovar que eu ainda sou capaz de acertar. Só isso.
Então minha princesa falou o que falou acima, estendeu a mão animada e quis sair correndo, eufórica. Agora vamos para o futebol, disse.
Disse o que disse e apagou em 10 segundos vários fantasmas que estavam estacionados há um bom tempo aqui dentro, prontos para sussurrar baixinho sentenças como você não consegue, seu tempo passou, sua memória e julgamentos nem são mais aqueles do passado, desista, se entregue .... nem tente ...
Certamente, ela nem deve lembrar do que disse.
Eu, ao contrário.
Eu não esqueço mais, nem mesmo um minuto ...










quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Vontade de vencer




Tenho uma agenda cor de rosa, com a foto do Snoopy.
Algumas pessoas implicam com ela, mas eu adoro minha agenda mesmo assim.
Se alguém não conhece, o Snoopy é um personagem de estórias em quadrinhos que fez sucesso também como desenho animado, desenho animado que adorava assistir nos dias em que fui criança. Lembrança legal essa ...
Na minha agenda do Snoopy, o que importa dizer, é que eu não anoto nenhum compromisso formal. Ela é minha agenda especial e vou explicar porque, mais adiante.
É interessante perceber que seria um desperdício anotar compromissos formais nela, porque para isso eu uso ferramentas modernas da vida moderna.
E as ferramentas modernas da vida moderna são bem irritantes : meu telefone celular literalmente grita para me avisar dos compromissos que tenho, o meu calendário do outlook está cheio com todas as aulas que tenho até o fim do ano e decorei a tábua de horários inteirinha da cia. aérea que uso, quando viajo a partir da minha saltitante Campinas. Faço essa reflexão introspectiva, antes de marcar qualquer coisa com as pessoas. Essa é a rotina, imposta, impessoal e inflexível.
Essa pequena amostra de coisas chatas realmente não combina com o meu livrinho que citei acima.
Ele é reservado para uma única finalidade : datas marcadas com o fato mais especial que eu presenciei em cada dia do calendário, por mais irrelevante que esse fato seja na visão dos outros.
E meus caros, espero que acreditem na minha palavra : nem acho que a coisa seja original, mas ela funciona.
Obviamente que as coisas que anoto são segredos meus para comigo mesmo, mas quero fazer exceção para um deles, cujo personagem é uma valente cadelinha que está entre nós há apenas 30 dias.
Ela foi para o livrinho duas vezes.
Na primeira vez, era fonte de preocupação : é integrante da turba de 11 cachorrinhos que aportaram na casa da minha mãe, depois que a Gabi teve a brilhante ideia de salvar uma cachorra da rua. Bom, nem posso falar muito porque incentivei a ação dela.
Essa cadela resgatada entrou no cio e meses depois pariu 9 cãezinhos.
Seu exemplo fez escola e a poodle que temos, 12 anos de cio pelas quais passou imaculada e ilesa, também resolveu liberar geral e acabou prenha : mais 2 caninos, que chegaram 1 dia depois dos outros nove.
Fechem os olhos e pensem : 11 filhotes. 11 FILHOTES !!!! Espalhados pelo quintal, crescendo com a clara intenção de tumultuar nosso ambiente. Desesperador.
E na segunda, ela é um exemplo inspirador.
Essa cadelinha foi rejeitada pela vira-latas que a Gabi resgatou. A ingrata estava deixando a própria cria minguar e a bichinha estava tão raquítica que todos aqui esperavam que ela não conseguisse. E além de raquítica, a filhotinha está toda machucada, em carne viva porque era arranhada e maltratada pela antiga cadela sem-teto.
Eis que o andar do bêbado se manifestou nela, dias atrás : a cadelinha mandou para a lua os 99% de chance de morte, e acabou com a própria fome agarrando de forma insana as tetas ... DA POODLE !
E a POODLE adotou prontamente a pobrezinha. E fez mais : encarou a outra cadela, bem maior que ela e espantou essa perturbada da casinha em que ela mora, agora com suas 3 crias.
Fez isso porque essa desviada tentou novamente machucar a filhote rejeitada. Só que quando tentou invadir a casa da POODLE para agredir a antiga cria, tomou uma feroz rosnada e desistiu. As razões dos bichos são mesmo misteriosas, pensei.
Foi Amazing, como diriam os saxões.
Não conheço as experiências de vocês, mas ao longo da minha vida eu encontrei algumas pessoas que debocharam dos meus planos, tentaram sabotá-los, desacreditaram minha fé e se dedicaram em colocar obstáculos para que eu desistisse de ir adiante.
Para esses, há mais uma folhinha preenchida na minha inocente agenda rosa com desenhozinho fofinho do Snoopy. É onde está anotada a estória dessa esperta cadelinha.
Ela está aqui para mostrar que a vontade de vencer ainda impede que o determinismo seja o fim de tudo.
E vejam : para a completa desgraça dos nossos inimigos, felizmente é assim ...