domingo, 29 de novembro de 2009

A Partida

Uma grata surpresa para nosso final de semana.
Díficil escolher um bom filme, com a locadora inundada de blockbusters ruins e comerciais.
Felizmente, eu e a Dri encontramos esse título ( "Okuribito" Japão, 2008 ), para aproveitar dois dias amplamente preguiçosos.
Ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro em 2009, sinceramente não esperava que a película demonstrasse tamanha delicadeza para abordar um tema tão espinhoso para todos nós humanos : como agir diante da morte.
"A Partida" arranha temas culturais próprios do Japão, recheados de cenas simbólicas e longas reflexões.
Mas esses mesmos temas, como a rejeição pessoal vivenciada em função do status da atividade que o protagonista passa a exercer após sua frustração profissional como músico, sua redenção, as relações familiares complexas e a tradição cultural que massacra as relações diárias, também são muito experimentados por nós ocidentais.
Para quem gosta de ação, não é um bom filme. A trama se desenrola lenta e exatamente por isso centra seu mérito na delicadeza crescente das relações entre os personagens, cada qual com seu drama pessoal particular.
O final é sensacional e causa uma boa reflexão sobre o que fazemos com o tempo que temos, tempo que é um conceito inexplicável, fundado no milagre que é nossa vida.
Para quem gosta de detalhes e sutilezas.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Para além do Capital

O contato com obras produzidas por pensadores clássicos da humanidade é um dos grandes prazeres que um curso multidisciplinar da área das ciências humanas oferece.
Como qualquer outra coisa em nossa vida, algumas dessas obras marcam mais. Outras, menos.
Terminei há alguns dias a leitura de "Para além do capital", obra produzida pelo húngaro István Mészáros.
Inicialmente, eu achei um livro complexo e cuja primeira compreensão exigiu a releitura de alguns dos capítulos. Primeira compreensão não é exagero : entender com profundidade o que ele escreveu, naquele determinado contexto histórico, exigiria muito mais atenção e debate com alguns dos estudiosos da obra de Mészáros.
Que os meus professores não leiam isso, mas sempre acreditei com reservas nas alternativas socialistas desenhadas e apresentadas como soluções para as assimetrias capitalistas.
Acho que foi por isso que recusaram minha matrícula no último curso de Antonio Gramsci : eu estava mais interessado nos seus cadernos como exercício cultural, e talvez tenham percebido isso. Enfim, não importa muito.
Realmente importante é confessar que essa obra do húngaro deixou-me em dúvida sobre muitas das minhas confortantes certezas.
Eu deveria ter resistido a tentação de experimentar o livro, feliz com minhas crenças em Ricardo, Locke, Smith ... acumulando meu capital aqui e ali, satisfeito com meu título de propriedade ...
Eis que o texto de István é demolidor. A reflexão decorrente dele, mais demolidora ainda.
E escrito por um sujeito que viveu a experiência do capitalismo estatal em seu país, antes de ser acolhido por uma terra capitalista-capitalista mesmo.

Esse livro aproxima minha inqueitação e a "vergonha" com a extrema pobreza vivenciada por muitas pessoas. Transcede o capitalismo ou socialismo : é um texto para despertar o conceito de humanidade e da importância da educação.

Sem aprofundar mais, é um livro que recomendo.