domingo, 11 de abril de 2010

Chil Rajchman

Este final de semana, eu aproveitei para ler um livro curto, livro que decidi adquirir ao ler seu resumo ( a famosa "orelha" do livro ). Queria muito ler algo e esse conteúdo pareceu perfeito, inicialmente por ser curto ( apenas 146 páginas) e mostrar o relato do Sr. Chil Rajchman sobre a experiência que viveu em Treblinka. O assunto me interessou por relacionar-se com outra obra que gosto ( Eichmann em Jerusalém, escrito pela fantástica Hannah Arendt ).
E que expressiva surpresa eu recebi com essa despretensiosa leitura.
Um relato espantoso desse senhor judeu polonês que terminou seus dias no Uruguai, em 2004.
A maldade humana realmente é surpreendente, fato já caracterizado em muitas obras produzidas por grandes escritores, e que relataram momentos históricos decisivos.
Mas as palavras escritas por Rajchman, descrevendo sua rotina da prisão e deportação até a saída ( fugiu e sobreviveu, um dos poucos seres que escaparam vivos de Treblinka ) do campo onde esteve concentrado é tão direto e ausente de mediações que provoca espantosas reflexões.
Que sentimento guiava os assassinos burocraticamente ausentes da sua própria condição humana ? Porque eliminar crianças inocentes com extrema crueldade, coisa tão hedionda, tão extrema contra a vida ?
Como eu citei, as descrições dele são chocantes.
Nada naquele lugar era normal, embora Rajchman realize esboços de relações e laços frágeis de algo que pareça humano em muitos momentos da sua curta obra.
A leitura valeu para relembrar o quanto é repugnante qualquer atentado contra a vida, e que a irracionalidade reside em todos os detalhes da subjugação do outro que está indefeso, de todos os que são mais fracos. Naquele momento histórico e hoje, pois essa é uma assimetria atemporal.
Em "Eu Sou o Último Judeu", Chil Rajchman mostra a crueza de abraçar o vazio que irrompe da impressionante certeza e aceitação das vítimas sobre o próprio extermínio, condição aceita com resignação e a relação pecuniária que permeia todas as fases pré e pós eliminação ( para sempre, penso eu ) daquelas pobres almas.
Tudo estava fundado, em última instância, no dinheiro.
Eliminar vidas para acumular papel vagabundo impresso, pedaços inertes de metal e pano. Onde há lógica ?
Entre outras cenas marcantes, os curtos relatos ditados pelas mulheres cujos cabelos são literalmente tosqueados antes do momento em que serão trancadas nos cubículos em que sufocarão até a própria morte ( e elas sabem disso, sabem que murmuram as últimas palavras antes do próprio fim ) agredidas moral e fisicamente, perderiam-se para sempre sem as anotações de Rajchman. Somente isso bastaria para que a obra dele possa ser considerada extraordinária. Só que no livro há muito mais, dependendo das convicções pessoais, das crenças e valores próprios dos variados leitores.
É um grande livro. É impressionante.

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